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Gíria não, dialeto!

  • Marcelo Lima e Rafael Teles
  • 27 de out. de 2015
  • 2 min de leitura

“Pivete”, a galera tá cheia de “migué”, falando do que não sabe e “barriando” o filme da favela. Querem descer pra nossa área, “bafar” nossas ideias e sair por aí usando gírias. Eles não tão ligados que aqui não rola gíria, a gente usa é dialeto. É por isso que eu digo que é “tudo nosso” e nada deles, e que depois de nós, “é nós” de novo! “Se pá”, você não se ligou em nada do que eu disse né?! Fique “de quebrada”, não precisa “pegar ar” que daqui a pouco tudo vai fazer sentido, “é nenhuma”?

Se o início desta matéria lhe pareceu outro idioma, certamente você não é frequentador, muito menos morador, das “quebradas” de Salvador. As gírias, ou dialeto, como os criadores preferem chamar, vão além dos limites da comunicação e se tornam parte da identidade de quem mora na periferia.

O uso de um vocabulário exclusivo aumenta a idéia de pertencimento e eleva o moral de uma classe predominantemente desfavorecida. Funciona como uma espécie de marca registrada, algo que determina a sua tribo.

Presente principalmente no universo dos jovens, é praticamente impossível que eles passem um dia sem recorrer ao uso dessas expressões. Importante frisar também que o uso de gírias não é algo exclusivo da periferia, o estudante Vinícius Dias, 19, que mora na Boca do Rio, reforça essa questão: “Todo mundo fala gíria. Não é coisa só da favela, mas as nossas são as melhores. Aí a playboyzada copia logo”, conta o estudante.

O pedagogo e escritor Moacir Saraiva explica que o uso dessas expressões parte da união entre a criatividade a falta de conhecimento técnico. “Elas surgem do imaginário popular, muitas vezes para simplificar uma expressão mais difícil, ou palavras que não fazem parte daquele cotidiano”, argumenta Moacir.

O dialeto da periferia rompeu os limites da favela e caiu no gosto popular. A utilização dessas gírias por parte de artistas, principalmente oriundos dessas classes mais desfavorecidas, despertou o interesse de outra parte da população.

É comum que jargões como “tamo junto” e “é nóis”, antes exclusivo do universo periférico, sejam ouvidos também em núcleos frequentados pela elite baiana. Isso gera uma descaracterização da linguagem popular, mas funciona como forma de reconhecimento da cultura que é produzida na periferia.




 
 
 

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