Esporte, Saúde e Superação
- Flávia Marinho e Danielle Mendes
- 27 de out. de 2015
- 7 min de leitura
O que faz você se mover? O que verdadeiramente faz você acordar todos os dias e continuar? Talvez todos nós tenhamos algum motivo que não nos deixa desistir. O de hoje, para a paratleta, Nayara Falcão (31), foi a Fé. A multi atleta de natação, karatê, boxe, futebol e corrida de aventura, que entrou no mundo dos esportes aos 3 anos de idade, viu seu sonho de menina desmoronar, quando, em 2013, Em foi diagnosticada com um câncer agressivo na tireóide, levando-a a ser submetida ao tratamento de quimioterapia.
Nayara, que sempre se deu bem em todas as modalidades esportivas que praticava, de repente se viu diante de um enorme desafio. Por causa do tratamento, ficou impossibilitada de continuar sua rotina nos esportes. Após todo o processo de recuperação que durou cerca de 1 ano, os médicos finalmente liberaram a volta aos treinos. Feliz com a notícia, o que ela mais queria era retomar a condição física, a potencialidade e dinamismo de antes. Entretanto, Nayara que estava desempregada, não tinha condições financeiras para arcar com os custos de um nutricionista e personal, profissionais que deveriam acompanhar o processo de inserção dela novamente aos esportes.
Em paralelo a essa situação, a multi atleta que queria retomar sua vida, conheceu um estudante de nutrição e fisiculturismo, que dizia acreditar no seu potencial. “Eu estava com o psicológico abalado, então acabei embarcando na conversa do tal profissional. Confiei em uma pessoa que me levou a extremos". O estagiário recomendou uma dieta super rigorosa, com zero carboidrato, associada a um treinamento extremamente exagerado, de domingo a domingo, sem descanso. Com isso, ela conseguiu atingir 4% de gordura no corpo e emagreceu 12 quilos em apenas um mês.
O resultado de toda essa carga pesou na qualidade de vida de Nayara. Em junho de 2014, após participar de uma competição, a atleta foi diagnosticada com Rabdomiólise, doença caracterizada pela destruição muscular, que tem como uma das causas o excesso de atividade física. A doença causou a morte do músculo das pernas chamado “tibial anterior”, que é responsável pelo movimento que levanta a ponta do pé para cima. Com o quadro clínico avançado, Nayara chegou a um estado de parada dos rins, e o diagnóstico foi evoluindo até a falência múltipla dos órgãos.
Em dois meses internada em um hospital, ela passou por 10 cirurgias. O sonho de Nayara estava indo embora juntamente com os movimentos pernas: as mesmas que lhe deram diversos títulos nos mais variados esportes. Com o diagnóstico de necrose agressiva que lhe gerou uma grande infecção, Nayara perdeu o músculo que é responsável pelo andar. Os médicos a desenganaram com a notícia de que a atleta não andaria mais ou sequer praticaria esportes, “Eles queriam amputar as minhas pernas, mas eu implorei a um deles para tentar salvá-las", conta Nayara.

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Outra consequência foi uma grave lesão irreversível de nervos, que resultou na perda de respostas neurais. Sem sensibilidade nos pés e em partes das pernas, ela saiu do hospital como cadeirante. Apesar de tudo a jovem não aceitou essa condição e foi tentando aos pouco reverter à situação: “Primeiro comecei tentando ficar em pé sozinha, todo mundo ia dormir e de madrugada eu tentava sair da cadeira de rodas”, lembra. Com a reabilitação no Hospital Sarah, em Salvador, Nayara viu diversas histórias semelhantes a sua e encontrou forças para tentar voltar aos esportes.
Nas redes sociais do modelo e paratleta, Fernando Fernandes, Nayara encontrou inspiração que viraria apoio pessoal. Foi Fernando quem a ensinou a redescobrir o prazer no esporte. Em janeiro deste ano os dois se encontraram pela primeira vez na praia do Porto da Barra, em Salvador, quando Nayara teve todo o incentivo moral que precisava naquele momento. Fernando a convidou para a disputa do Campeonato de Paracanoagem de São Paulo, hospedando a jovem atleta em sua casa e cedendo seus instrumentos de competição (caiaque e remo). Nascia assim uma amizade fortalecida em um momento doloroso enfrentado pelos dois. Com o apoio do amigo, a atleta conseguiu a segunda colocação na categoria como paratleta de canoagem sem nunca ter treinado em um caiaque.
Meses depois, em Curitiba, Nayara alcançou o terceiro lugar no pódio. Convocada para a seletiva do Pan Americano e Sul Americano de Paracanoagem em junho deste ano, ela ficou de fora porque a doença voltou a incomodar. Recuperada de mais um susto, a jovem que nunca mais voltaria a andar, já não faz mais usos de muletas e foi autorizada a realizar a recente Corrida da Águia (Esquadrão Águia), de bicicleta.
“O que eu tiro como lição dessa situação é o fato de saber que as minhas escolhas me levaram a viver o que eu estou vivendo. Mas, conheci profissionais que embarcaram na minha luta, e hoje eu estou de pé, andando e me dedicando a paracanoagem.”, concluiu a atleta. Atualmente, as pernas não são mais as mesmas velozes de outrora, mas sucesso no esporte que era o sonho de criança de Nayara, ainda é a sua grande motivação.
Recomendações
Seja qual for à modalidade, os esportes trazem inúmeras vantagens para a saúde de quem os pratica, e mesmo os benefícios sendo incomparavelmente maiores do que os riscos, estes existem, e podem ser evitados. Uma das principais recomendações é que se busque orientações profissionais antes de iniciar qualquer tipo de treino.
Renato Maia (39), é corredor veterano, personal trainer e educador físico. Ultramaratonista ele correu 173 km em um campeonato (mais de 24 horas correndo), sabendo o desgaste que isso resulta, o profissional fala que o principal risco do excesso de treinamento é levar os atletas a lesão, e para que isso não ocorra, deve haver um planejamento que no esporte é chamado de periodização, ou seja, um atleta pode correr todos os dias, mas não todos os dias com o a mesma quilometragem e/ou intensidade.”, destaca o personal, que ressalta ainda que cada corpo é um corpo também no treinamento esportivo, “chamado de princípio da individualidade biológica, cada indivíduo vai responder de uma forma ao treinamento, e isso deve ser respeitado de acordo com as características de cada um. Sempre falo para os meus alunos que descanso também é treino, é necessário respeitar o limite do corpo.”, concluiu. Com os anos de experiência de Renato, ele revela que às vezes existe um planejamento e ainda assim é necessário alterá-lo, pois se deve levar em consideração se a pessoa dormiu bem, como é que foi o dia de trabalho, entre outros.

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No treinamento é necessário dá estímulos fortes para quebrar o equilíbrio, o que chama de homeostase, mas também tem que saber a dosagem entre carga e recuperação, “Não pecar nem pelo excesso, nem pela falta do estimulo adequado, e mesmo com todo o planejamento, pode acontecer uma condição que se denomina como ”Overtraining”, caracterizada pelo excesso de treino. É necessário também que a pessoa saiba se autoavaliar, saber diferenciar uma dor que pode ser do exercício ou uma potencialmente lesiva.”, lembrou o professor. O corpo emite alguns sinais quando “algo não vai bem”, como por exemplo, dificuldade para dormir, perda de massa muscular, cansaço em excesso. Essa situação pode ser avaliada através de alguns exames que tem marcadores que medem o nível de estresse do corpo, tipo o CPK, Testosterona e Cortisol.
O microempreendedor Pedro Gil (33), adepto a prática de corrida, acredita que o esporte é muito importante para quem quer manter uma boa forma física, uma vida saudável e prolongar a sua qualidade de vida. Ao contrário de Nayara, ele tem uma tendência a sofrer lesões, e mesmo com o diagnóstico constado, levou os treinos a uma carga mais elevada do que o permitido, assim há pouco tempo ficou afastados das atividades por conta desse excesso, “Infelizmente o meu corpo é propício ao desenvolvimento de contraturas, não é nada de grave embora cause bastantes dores.”, contou. Pedro hoje é acompanhado por um profissional em seus treinamentos, ele ainda ressalta que a boa notícia é que fazer o devido alongamento, orientado pelo instrutor no final dos treinos, ajuda a prevenir bastante à possibilidade de lesões.

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Em 21 de abril de 2012, o empresário Leonardo Cunha (36), começou as corridas de rua. Entretanto, ele já está envolvido com o atletismo há 13 anos. Durante um tempo, por motivo familiar ficou parado nas atividades, com isso engordou 20 quilos, “No dia 23 de dezembro de 2014 me pesei, vi que estava com 98 quilos e falei para mim mesmo que não iria chegar aos 100 quilos e que iria voltar a minha antiga forma. Então resolvi procurar um especialista na área para ter um acompanhamento e justamente voltar ao mesmo desempenho de antes.”, contou Leonardo. Para ele, a ajuda profissional é extremamente necessária para mesclar os tipos de treinamentos, relatando também que tem acompanhamento de nutricionista e que nada é feito de forma aleatória. “Com esse processo em 06 meses perdi de 18 a 20 quilos, retornei também a fazer as maratonas. Tenho muito orgulho de dizer que nesses 13 anos de atletismo nunca me lesionei, pois sempre respeitei o meu corpo. Minha planilha é bem seguida, os dias de ‘off’ realmente eu descanso, e os dias de treinar, o faço realizando a planilha de forma perfeita.”, disse.

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Diversos são os fatores que levam as pessoas a praticarem esportes, seja a busca pelo corpo que deseja, uma vida mais saudável ou simplesmente um hobby. Para tanto, iniciantes ou veteranos, habituais ou esporádicos, todos que não respeitam seus limites infelizmente estão propensos a sofrer as consequências. Cuidados básicos desde com alimentação até as cargas estipuladas é extremamente importante, para que o esporte não passe a ser um vilão. Aos que correm e querem participar de maratonas, devem se preparar por meses antes de executar. A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, indica testes ergométricos para homens com mais de 35 anos e mulheres com mais de 45 anos de idade, que se dedicam a atividades de maior esforço. A American Heart Association e o American College of Sports Medicine, aconselham que os iniciantes façam 30 minutos de atividade moderada, cinco vezes por semana. Esporte e saúde é uma combinação perfeita, basta adotar cuidados básicos, essa é uma ótima estratégia para viver mais e viver melhor.
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